terça-feira, 13 de março de 2012

O SAPO

Poema Modernista  de Manuel Bandeira
OS SAPOS
Enfunando os papos,                                 
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte!  E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
Urra o sapo-boi:
– “Meu pai foi rei” — “Foi!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
– “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–”Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
                         1918
Manuel Bandeira (Recife PE, 1884 – Rio de Janeiro RJ, 1968) foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Teve seu primeiro poema publicado aos 8 anos de idade, um soneto em alexandrinos, na primeira página do Correio da Manhã, em 1902, no Rio de Janeiro. Cursou Arquitetura, na Escola Politécnica, e Desenho de Ornato, no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1903 e 1904; precisou abandonar os cursos, no entanto, devido à tuberculose. Nos anos seguintes, passou longos períodos em estações climáticas, no Brasil e na Europa.
O poeta chama de sapos os poetas parnasianos que somente aceitavam a poesia rimada, formal, tipo os sonetos, exigiam rimas ricas.
Ele satiriza as reclamações deles e compara-as com o coaxar dos sapos num banhado ou rio.
Também mostra algumas das regras que eles seguiam: comer hiatos, nunca rimar cognatos, dar importância à forma.
Todo o poema é uma crítica aos conceitos do parnasianismo que vigorou nas décadas finais do séc XIX e das duas iniciais do séc. XX.
A cada um dos poetas reclamadores importantes ele denomina diferente: sapo-boi, sapo tanoeiro e aos menores chama de saparia.

Ronald de Carvalho declamou esse poema de Manuel Bandeira na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Esse evento iniciou o Modernismo na Literatura e nas Artes no Brasil.
 
Glossário:
·         Enfunando- Envaidecido, vaidoso, inchado.

·         Frumento- O melhor trigo; trigo candial; Qualquer trigo.
·         Assomo- Mostrar-se, manifestar-se, revelar-se; aparecer:

·         Tanoeiro- [De tanoa + -eiro.] Substantivo masculino. Aquele que faz e/ou conserta pipas, cubas, barris, dornas, tinas,...
·         Estatutário- Relativo a, ou contido em estatuto(s):

·         Perau- Declive áspero que dá para um rio ou para um arroio;
·         Transido- Esmorecido ou inteiriçado (de frio, dor, vergonha, susto, etc

Reescrever este poema com uma linguagem mais atual.

·         Vário- Diverso diferente:

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Thainara, que bom que gostou. Agora que tal reescrever este poema com uma linguagem mais atual? Vamos tentar?
      Bjs, MClara.

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  2. Vejam como este poema ficou na voz das alunas: Lavínia, Camila, Dalilla e Ana Luiza da turma 902-
    OS SAPOS
    Enchendo os papos,
    Saem da luz, os sapos.
    Escondendo na luz

    Em barulho que pousa na terra
    Grita o sapo-boi:
    “-Meu pai foi à guerra!”
    “-Não foi!”-“Não foi!”

    O sapo que concerta,
    Que pertence a poesia dos altos
    Conhecimentos, guloso
    Diz:”-Minha coleção de poemas
    É bem teimosa

    Aqui está como sou habilidoso
    Em comer os hiatos!
    Que arte! E nunca rimo
    Os termos da mesma família.

    O meu verso é bom.
    Cereal de boa qualidade.
    Faço rimas usando consoantes.

    Vai pra cinqüenta anos
    Que te dei um exemplo:
    Diminuír sem prejuízo
    O molde e o modelo

    Implore a saparia
    Em critica de quem não é crente:
    Não há mais poesia,
    Mas há arte poética (sentimentos expressos do
    Autor)...”

    Grita o sapo-boi:
    -“meu pai foi rei”! – “Foi!”
    -“Não foi!” – “Foi” – “Não foi!”

    Grita acusando
    O sapo- tanoeiro:
    -“A grande arte é como
    Trabalho de joalheiro.

    Ou bem de quem faz as regras.
    Tudo quanto é belo,
    Tudo quanto é diferente,
    Canta no martelo ( é acabado)”.

    Outros, os sapos-pipas
    Um mal cabe em si,
    Falam muito
    _”Sei!” – “Não sabe!”

    Longe desta gritaria,
    Lá onde é mais escuro,
    Na noite infinita

    Lá, fugindo do mundo,
    Sem glória, sem fé,
    No precipício profundo
    Onde é solitário

    Que soluças tu,
    Cheio de frio,
    O sapo-cururu
    Da beira do rio...

    Parabéns,meninas!

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  3. Que lindo, acho que as meninas ficaram muitos felizes que nem eu mesma fiquei ao ver que nosso poema foi o escolhido. E agradeço por mim e pelas meninas. Beijos, Ana Luiza 902

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  4. Os sapos
    Inchando os papos,
    Saem da sombra,
    Aos pulos, os sapos
    A luz os ilumina.
    Em ronco que a terra,
    Berra o sapo-boi:
    - "Meu pai foi à guerra!"
    -"Não foi!” – “Fo!” – “Não foi!”
    O sapo-pipa
    Parnasiano aguado,
    Diz – “ Minha coletânea de canções
    É bem martelado.
    Ver como primo
    Em comer os hiatos!
    Que arte! E nunca rimo
    Os termos parecidos
    O meu verso é bom
    Cereal de boa qualidade.
    Faço rimas usando consoantes.
    Vai pra cinquenta anos
    Que te dei um exemplo:
    Diminuir sem prejuízo
    A formas a forma
    Proteste a saparia
    Em críticas descrente:
    Não há mais poéticas...”
    Grita o sapo-boi:
    -“Meu pai foi rei” –“Foi!”
    -“Não foi!” - “Foi!” – Não foi!"
    Gritar em um manifesto
    O sapo-pipa:
    -“ A grande arte é como
    Trabalho de joalheiro.
    Ou bem de estatutário.
    Tudo quanto é belo,
    Tudo quanto é vário,
    Canta no martelo. ”
    Outros, sapos-pipas
    (Um mal em si sabe),
    Falam pelas tripas:
    - ”Sei!” – “Não sabe!” – “Sabe!”


    Longe desta gritaria,
    Lá onde é mais escuro,
    Em uma noite sem fim
    Ver uma sombra sem tamanho
    Lá fugindo do mundo,
    Sem glória, sem fé,
    Um buraco profundo
    E solitário, é
    Que solução tu,
    Cheio de frio,
    Sapo- cururu
    Da beira do rio...

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