A maior sala de aula do mundo
Entrevista
// Henrique Koifman
Na aula do dia
11/02/14 de terça-feira passada, vimos um vídeo sobre o uso das tecnologias em
sala de aula – reportagem do Fantástico – vocês se lembram? Este texto é uma
continuação de uma das reportagens exibidas no vídeo. É uma entrevista com o norte-americano Salman
Khan feita pelo Skype (ferramenta de bate-papo
em voz e vídeo, em tempo real, pela internet), ele fala sobre educação e
professores, abordando ainda a parceria entre sua academia e a Fundação Lemann,
que financia a versão para o português da plataforma com exercícios e vídeoaulas.
A nova plataforma da Khan Academy estará disponível gratuitamente para os
estudantes e professores brasileiros, totalmente em português, a partir de
janeiro de 2014 no endereço www.fundacaolemann.org.br/khan-portugues. Leiam
e respondam as perguntas que estão no final do texto, levem as respostas para a
sala de aula, ok?
“Henrique Koifman
pergunta: - Em
seu livro Um mundo, uma escola, você
afirma que qualificar o tempo na escola é uma questão muito importante. Como a
tecnologia pode ajudar a escola a fazer isso e também a ser mais criativa?
Salman Khan responde: - O modelo que temos hoje no mundo para a educação é o mesmo
utilizado no final do século XVIII, nos primeiros estágios da Revolução
Industrial, um conceito empregado para produzir qualquer tipo de coisa em
escala por um preço razoável, tal como nas fábricas. Formamos grupos de alunos
que vão sendo conduzidos, juntos, por uma mesma trilha. Cada um deles tem duas
semanas para aprender determinado conteúdo. Os que conseguirem aprender
receberão conceito A; outros aprenderão razoavelmente bem e receberão B ou C,
enquanto outros não vão dar a mínima para o conteúdo. Se aprenderem bem o
conteúdo, terão “bom futuro”; se prosseguirem falhando, terão “mau futuro”.
É claro que, mesmo cem anos atrás, as pessoas já
pensavam que o ideal seria que cada aluno tivesse uma instrução, uma formação
mais personalizada. Se ele não entender o conteúdo, vamos explicar mais até que
compreenda. Não faz sentido passar para a matéria seguinte se você mal
compreendeu o assunto anterior. As pessoas sempre concordaram com essas ideias,
mas simplesmente não havia um modo prático de adotar tal medida nas escolas,
havendo 30 crianças em uma sala. Hoje, o que a tecnologia é particularmente boa
em proporcionar é justamente localizar, ordenar e personalizar conteúdos e
sistemas, facilitando a coordenação das informações.
HK -
Como o conteúdo é apresentado aos alunos?
SK - Na maioria das escolas, as salas de aula são o único
espaço onde a informação é disseminada. O professor dá a aula, apresentando o
conteúdo, e esta é a sua única chance de adquiri-lo. Então, as crianças ficam
preocupadas em anotar tudo, pois sabem que, se não anotarem, provavelmente
esquecerão o que foi explicado. Com os recursos atuais, não é preciso anotar ou
ficar apreensivo para captar tudo naquele único momento, pois é possível ter
acesso àquele conteúdo quantas vezes for preciso e quando quiser — basta
acessá-lo para refrescar a memória. É como se o quadro-negro nunca fosse
apagado. Você pode fazer seus exercícios em seu próprio tempo e em seu próprio
ritmo. Sabe que vai conseguir aprender, e as aulas passam a servir para que
você tenha instruções personalizadas de seu professor, para que você trabalhe
com seus colegas e com o sistema, para que você avance no seu próprio tempo.
HK- Como
a tecnologia pode ajudar os professores a entender e acompanhar o ritmo de
aprendizado de cada aluno?
SK -
Habitualmente, o que ocorre é que alguns estudantes estão captando a aula no
ritmo esperado, outros podem estar ficando até impacientes, por pensar que
avançam lentamente, e outros simplesmente ficam sem nada entender ou sem
conseguir fixar-se no professor. No entanto, o professor só vai conseguir ter
uma noção mais precisa sobre isso quando aplicar um teste, no qual os alunos se
dividirão entre os que aprenderam tudo e tiraram A, aprenderam parcialmente,
com B e C, ou não aprenderam nada ou quase nada. O ideal seria que quem não
tivesse tirado um A merecesse uma atenção especial do professor para que
pudesse entender e absorver o conteúdo que ficou faltando. Porém, o que ocorre
no sistema atual é que, se você atinge o grau mínimo, um C, segue adiante.
Seria ótimo se o professor pudesse saber com dias ou semanas de antecedência
que aquele aluno está na trilha para tirar um C ou um D e, assim, dedicar mais
de seu tempo ou mesmo indicar um colega de turma melhor naquele tópico para
ajudá-lo a superar suas dificuldades e aprender o que está sendo ensinado.
Por meio das ferramentas TECNOLÓGICAS, o professor pode verificar o que os
alunos estão estudando, por quanto tempo, como se saíram nos exercícios e quais
são suas dificuldades. Com isso, podem mandar um e-mail ou telefonar para eles
e oferecer ajuda nos tópicos em que demonstram maior dificuldade ou sugerir
pesquisas e material que possam ajudá-los. Esse tipo de informação sobre a
evolução dos alunos está permanentemente disponível para os professores, algo
que nunca ocorreu antes. Em geral, a única informação que os professores têm em
relação à compreensão de seus alunos durante as aulas é a fisionomia deles.
Tentam deduzir como seus alunos estão recebendo aquele conteúdo, se estão ou
não acompanhando como esperado, mas têm muito pouca informação para essa
dedução.
HK -
Quais são as diferenças entre as salas de aulas tradicionais e o novo modelo
que você propõe?
SK - A sala de aula
tradicional tem 30 carteiras, todas viradas na mesma direção; o professor tem
um quadro no qual apresenta suas aulas e, às vezes, corrige e passa deveres de
casa. Na nova sala de aula, as crianças passam parte do tempo trabalhando cada
uma em seu próprio ritmo, resolvendo exercícios, estudando o conteúdo, mas não
é uma forma de isolamento. Na verdade, é no modelo tradicional que elas ficam
isoladas, sem poder falar com as outras, preocupadas apenas consigo mesmas e em
tomar notas. Na sala que propomos você trabalha nas matérias e ajuda os seus
colegas. Se tiver dúvidas, pede ajuda e alguém vem explicar. Os professores
acompanham o processo e sabem quem são os alunos que precisam de maior atenção
a cada momento, podendo sentar-se perto deles.
HK- Como professor, qual é,
em sua opinião, o maior desafio para quem ensina?
SK - Outro dia me
encontrei com a representante de uma organização que envolve dezenas de
professores aqui nos Estados Unidos e perguntei a ela: “O que diferencia os
melhores professores dos demais?”. Ela comentou que muitas pessoas acreditam
que os melhores professores são os que dão as aulas mais atraentes, mas que não
é isso que diferencia um bom professor. Outras valorizam mais os profissionais
que têm títulos, como o PhD, mas que também não é isso que faz os melhores
professores. Para ela, os professores que realmente fazem com que seus alunos
evoluam no conhecimento, que conseguem motivar e fazer com que os estudantes
percebam que eles próprios devem assumir responsabilidades sobre si mesmos e
sobre sua educação são os melhores. Assim, acredito que o grande desafio para
os professores é saber como, entre todas as suas tarefas, criar tempo para
poder estabelecer essas importantes conexões pessoais com os alunos a fim de
exercer o importantíssimo papel de adulto na vida deles — às vezes, o papel do
principal adulto — e ajudar a fazer com que os jovens acreditem em si mesmos,
que se sintam capazes e motivados para realizar coisas e para que se sintam
donos de seu destino.
O aluno que tiver em sua vida aquele professor que gire a
chave em sua cabeça, que faça com que, no lugar de encarar a escola e o estudo
como obrigação, entenda que adquirir conhecimento é fundamental para que ele
venha a ter uma boa carreira, um bom futuro, estará sendo programado para os
próximos 60 anos de sua vida. Este é o segredo de ensinar — e espero que
estejamos desenvolvendo ferramentas que liberem mais tempo para que os
professores possam se dedicar mais a essa conexão fundamental com seus alunos.”
Agora pense e responda:
1- Como futuro professor ou mãe ou pai de um futuro aluno de uma
escola possivelmente nova, como seria este modelo de escola nova? Seria como a
idealizada pelo Saman Khan ou não? Por quê?
2- Que tipo de metodologia inovadora você gostaria que essa
escola tivesse? Pense em uma escola que
usa as tecnologias e uma que não usa, mas que tem algum diferencial em seus
métodos de ensino. Descreva-a com detalhes; Ambiente em sala de aula (
mobiliários, iluminação, espaço,etc) e metodologia de ensino ( Ex: como
professor eu trabalharia com 25 ou 30 alunos apenas; trabalharia com os alunos
sentados em grupos ou em duplas ou individualmente; teria dois quadros ou uma TV
ou um palco...) Use a sua imaginação e idealize um modo de educação que seja
adequado as suas necessidades. EU TE DESAFIO A PENSAR EM MUDAR A NOSSA HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO!!!!
3- Comentem neste blog o que achou da entrevista e traga, na
próxima terça-feira ( 18/02), para sala as respostas das perguntas 1 e 2;